O objetivo dessa postagem não é fazer uma revisão exaustiva sobre o conceito de racionalidade. Mas de apresentar uma revisão sucinta do significado de tal conceito quando empregado na nossa área acadêmica. Dessa forma, apresentamos o conceito de racionalidade em Max Weber, que constitui uma das referências básicas da nossa área quando o assunto é racionalidade e concepções de racionalidade ilimitada e limitada. A probabilidade de dentro de um texto de administração racionalidade estar ligado a esses dois sentido é grande.
Segundo Kalberg (19080), Weber discorda da visão que o homem tornou-se apto a se guiar por uma conduta racional a partir do Iluminismo, pois o homem para ele já era capaz de tomar decisões racionais mesmo antes do Iluminismo. A diferença repousa no tipo de racionalidade que orienta a ação social. Na visão de Weber, há quatro tipos de racionalidade, a saber: racionalidade prática, racionalidade teorética, racionalidade substantiva e racionalidade formal (KALBERG, 1980).
A racionalidade prática está mais estreitamente relacionada com as atividades humanas marcadas pelo interesse individual e pragmático. Dessa maneira, em termos de interesse cotidiano a racionalidade prática revela-se como o cálculo preciso dos meios mais adequados para o alcance de fins práticos. Em decorrência dessa racionalidade os indivíduos tendem a ordenar seu modo de vida em torno do seu próprio interesse. Os indivíduos guiados por esse tipo de racionalidade subordinam-se a realidade dada ou conhecida, ao passo que tende a rejeitar a toda orientação transcendental (KALBERG, 1980).
A racionalidade teorética refere-se à atividade de criação de um domínio da realidade, por meio da construção de conceitos abstratos. Pode-se, de modo geral, dizer que todo processo cognitivo abstrato – em todas as suas possíveis formas, ex: atribuição de causalidade e formação de significados simbólicos – é permeado por uma racionalidade teorética. Muito embora, não seja capaz de introduzir um novo modo de vida diretamente, tal como a racionalidade prática e substantiva, a confrontação entre o teórico e a realidade pode promover indiretamente o aparecimento de novos padrões de ação. Além disso, esse tipo de racionalidade possui um papel importante na racionalização das visões de mundo, na unificação de valores e na racionalização dos dogmas religiosos (KALBERG, 1980).
A racionalidade substantiva diferentemente dos outros tipos de racionalidade, não se baseia, exclusivamente, no cálculo entre meios-fins. Os valores sejam eles passados, presentes ou potenciais orientam esse tipo de ação racional. Neste sentido, as atividades são realizadas independentemente dos resultados obtidos. Entretanto, a racionalidade substantiva pode estar circunscrita ou organizando apenas uma pequena área da vida de um indivíduo, como diz o velho ditado, “amigos, amigos, negócios a parte”. Ela baseia-se em padrões éticos que permitem ao indivíduo julgar e mensurar determinados acontecimentos empíricos, representando a capacidade do homem de agir racionalmente baseado em valores (KALBERG, 1980).
A racionalidade formal tende aparecer nas sociedades com características industriais, muito embora, ela já tenha surgido em alguns casos isolados fora desse tipo de sociedade. As esferas de vida cuja essa racionalidade tem maior significância são a economia, a legal, a científica e a forma burocrática de dominação. A racionalidade formal legitima seu cálculo meio-fim por meio de regras, leis e regulamentos universalmente aplicados. O apoio as regras e leis para tomada de decisão afastam qualquer referência as qualidades pessoais do tomador de decisão (KALBERG, 1980), tornando-se desta forma um cálculo utilitário de conseqüências. A racionalidade formal é mais conhecida como racionalidade instrumental, que foi um rótulo utilizado pelos pensadores da Escola de Frankfurt.
Atualmente, a racionalidade formal (instrumental) é predominante em nossa sociedade, e, por conseqüência, na esfera organizacional. Entretanto, isso não equivale a dizer que as outras formas de racionalidade não estão presentes em nossa vida cotidiana, pelo contrário elas atuam conjuntamente na vida do indivíduo, estando todas imbricadas nas tomadas de decisões dos indivíduos.
Além desse sentido apresentado acima, é comum na administração depararmos com as concepções de racionalidade (ilimitada) e racionalidade limitada. A racionalidade ilimitada, que está ligada a concepção de homo economicus foi por muito tempo um pressuposto da pesquisa em administração, e de algumas áreas correlatas, previa que qualquer tomador de decisão em qualquer circunstância estaria apto a analisar todas as alternativas de ação possíveis e escolheria a melhor alternativa para ação (HALL, 2004).
Já na perspectiva da racionalidade limitada, que foi desenvolvida por Simon (1979), preconiza que o indivíduo não é tem capacidade cognitiva de processamento de informação e de acesso as informações disponíveis, de tal modo que não consegue avaliar todas as alternativas possíveis de uma decisão, escolhendo apenas uma alternativa satisfatória.
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Então é isso, até a próxima.
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HALL, R.H. Organizações: estruturas, processos e resultados. 8 ed. São Paulo: Pearson/Prentice Hall, 2004.
KALBERG, S. Max Weber’s types of rationality: cornerstones for the analysis of rationalization processes in history. American Journal of Sociology, v. 85, n. 5, p.1145-1179, 1980.
SIMON, H. O comportamento administrativo. 3. ed. Rio de Janeiro: FGV, 19
Eu gostaria de agradecer pela incrível postagem, bem conceituada sobre racionalidade, no qual na internet não se encontra tão claro assim. Foi de muita grande ajuda para mim.
ResponderExcluirParabéns pelo tão bem explicitado conceito!
Ronei,
ResponderExcluirSuas explicações deram de dez a zero nas aulas de Metodologia do mestrado. Abraços e obrigado pelo ótimo post.
Usando o Prisma Institucionalista
ResponderExcluirNas teorias convencionais, a estrutura racional é assumida como a mais efetiva para coordenação e controle da rede complexa de relacionamentos, conforme embasamento do Weber e sua discussão sobre a burocracia. Conforme o crescimento e tecnologia crescem, a complexidade organizacional cresce, em conjunto com as relações internas, divisão do trabalho para ganho competitivo e em conseqüência, a formalização, racionalização e controle centralizado tendem a ocorrer nas organizações.
Para Max Weber (1993), sob o capitalismo, a ordem racionalista torna-se uma “gaiola de ferro” em que a humanidade é aprisionada, sendo que a burocracia é a manifestação organizacional do espírito racional e é irreversível, porque é muito eficiente para controlar o trabalhador. Dentre as causas à burocratização levantadas por Weber, a competição entre empresas capitalistas no mercado é a mais importante. A burocracia já é uma forma de homogeneização, pois Weber já havia constatado que as grandes empresas capitalistas da época seguiam modelos semelhantes de organizações burocráticas. No conceito clássico de Weber (1991), o poder é definido como a capacidade de um ator social impor sua própria vontade numa relação social, mesmo contra a resistência de outros que participem da ação. Interpretando a definição weberiana, Vieira e Misoczky (2003) ressaltam que nesta concepção os atores estão orientados para o próprio sucesso e buscam induzir o comportamento de outros sujeitos para obterem o estado desejado.
A definição proposta por Weber (1991) evidencia a diferença entre o poder e a autoridade. Embora, as duas palavras sejam tratadas como sinônimos na literatura pertinente, para o autor, enquanto o poder exige o emprego da força, tendo assim um caráter punitivo e coercitivo; a autoridade constitui o uso do poder de forma legitimada, formalmente aceita pela organização.
VIEIRA, Marcelo Milano Falcão; CARVALHO, Cristina Amélia. Campos organizacionais: de wallpaper à construção histórica do contexto de organizações culturais em Porto Alegre e Recife. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 27., Atibaia, 2003. Anais... Rio de Janeiro: Anpad, 2003.
WEBER, Max. Economia e Sociedade. Brasília: Editora da UnB, 1991.
WEBER, Max. Parlamento e governo na Alemanha reordenada: crítica política da burocracia e da natureza dos partidos. Petrópolis: Editora Vozes Ltda., 1993.
Obs: Leiam DiMaggio e Powell -
RAE - revista de administração de empresas, vol. 45, n. 2, abr-jun 2005
Caro Luiz,
ResponderExcluirMuito boa a sua contribuição.
Atualmente, tendo a complementar da seguinte forma:
Na perspectiva econômica do institucionalismo a racionalidade (ainda que limitada) é a orientadora da ação social.
Já de uma perspectiva sociológica a racionalidade é apenas mais um "valor" (embora muito influente) dentre outros que orientam a ação social dos atores.
Abraços,
Ronei
Muito obrigada pela contribuicao Ronei. Estou tentando entender o que diz este autor sobre racionalidade substantiva e tecnica pra continuar a entender o texto dele. Vc pode me ajudar? , o profissionalismo só tem significado dentro da
ResponderExcluirmoldura de uma racionalidade substantiva, e as tentativas de redefinir o profissionalismo dentro de uma estrutura dominada pela racionalidade técnica tornam
esse termo sem sentido. http://www.scielo.br/pdf/cp/v35n126/a02n126.pdf
Resumidamente, o profissionalismo só tem sentido se possuir base em conjunto de valores e princípios(código de ética, por exemplo) que nāo necessariamente envolvem a maximização de meios e fins. Se um médico guiar-se somente pela racionalidade instrumental, logo não existe espaço para que os valores do profissionalismo sejam colocados em prática, e consequentemente, em um caso extremo, a ideia de que a vida deve ser preservada também.
Excluirvoçe pode me dar um exemplo de racionalidade substantiva?
ResponderExcluirPara ficar em caso bem extremo, todo terrorista é guiado por uma racionalidade substantiva.
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