O primeiro deles é de autoria de Barbara Hemais e Sylvia Constant Vergara intitulado O Jeito Brasileiro de Publicar em Estudos Organizacionais e publicado na Organizações e Sociedade, que tem como objetivo analisar a construção linguística dos artigos selecionados.
As conclusões a que Hemais e Vergara (2001, p. 12) chegaram em seu artigo sobre a forma de escrita dos autores brasileiros são as seguintes:
- preferem destacar o pesquisador citado, em detrimento de conceitos, teorias, métodos e conclusões de pesquisa;
- Preferem não explicitar sua opinião sobre o quê ou quem está sendo citado;
- Preferem a forma não-integral para a auto-citação, talvez com o objetivo de mitigar a atenção para seu próprio trabalho de pesquisa;
- são mais explícitos sobre o que autores estrangeiros, dentre os quais destacam-se os anglo-americanos, dizem ou fazem;
- tendem a não privilegiar instância argumentativa, o que pode explicar a facilidade com que importam modelos gerados em outras culturas, sobretudo a anglo-americana;
- parecem depender de poucas fontes de informações, já que, ao referir-se a um assunto, tendem a não apresentar vários pesquisadores que a ele tenham se dedicado, preferindo optar por seguir uma linha, praticamente, definida por um único autor;
- fazem pouca exposição de pesquisadores brasileiros;
- dão mais destaque ao trabalho cientifico produzido fora do Brasil, especialmente aquele produzido nos Estados Unidos.
Para além, das críticas das autoras sobre a predominância de pensadores anglo-saxões nos artigos brasileiros, o que se pode inferir do texto é que os pesquisadores brasileiros, de modo geral, não dialogam entre si e nem com pesquisadores estrangeiros, criando um “monólogo científico”.
O segundo artigo é de autoria de Ernani Viana Saraiva e Alexandre de Pádua Carrieri publicado na Revista de Administração da USP em 2009 e tem como título Citações e não citações na produção acadêmica de estratégia no Brasil: uma reflexão crítica. O objetivo do estudo realizado pelos autores foi o de verificar se existia similaridades entre os artigos publicados no 3es com os Enanpads anteriores. Segundo os autores,
A pesquisa revelou que, entre os cem artigos aprovados, 48 apresentaram problemas de similaridade com outros artigos já publicados, dos quais 24 reproduziram partes de trabalhos anteriores dos mesmos autores, ou seja, apresentaram problemas de autocitação, variando entre 3% e 96% de similaridade. Os índices de similaridade relatados contemplam toda a
íntegra do artigo e foram analisados observando a origem dos trabalhos já publicados. (SARAIVA; CARRIERI, 2009, p. 163)
Vale destacar que os autores consideram similar apenas as frases com coincidência acima de 12 palavras. Sendo que o caso mais grave encontrado pelos autores foi um artigo onde apenas o título era diferente do artigo copiado.
Além disso, os autores encontraram também uma recorrência na prática de transcrições de textos do mesmo autor sem a devida auto-citação, assim como também a transcrição de trechos de artigos escritos em co-autoria e de terceiros que não foram devidamente citados. Conforme os próprios autores:
Ao se avaliar o problema de similaridade dos trabalhos publicados no evento 3Es e que remetem a artigos dos mesmos autores, ocorreram alguns casos em que, à primeira vista, os artigos pareciam ter problema de ausência de autocitação. No entanto, apesar de a similaridade estar em artigos do mesmo autor, percebeu-se que o autor havia publicado o artigo anterior em coautoria com outros autores. Assim, classificar o problema como uma ausência de autocitação implicaria desconhecer a coautoria existente nos artigos dos quais se reproduziu parte dos textos publicados. Alie-se a isso o fato de que, no mesmo artigo em que ocorre a reprodução de artigos do mesmo autor, porém em coautoria não citada, algumas vezes foram encontrados trechos reproduzidos de artigos de terceiros, também não citados (SARAIVA; CARRIERI, 2009, p. 164)
Diante das evidências apresentadas pelos autores, é interessante pontuar que, talvez, a baixa citação de artigos de autoria nacional, a qual Hemais e Vergara (2001) tanto criticam em seu trabalho, parecem ser reflexo de um padrão de escrita científica que tem como base a omissão das citações nacionais, próprias e de terceiro. Em outras palavras, a ausência de leitura dos autores brasileiros é um sintoma desse problema, não citação, pois se lê autores nacionais, mas não se assume essa leitura (SARAIVA; CARRIERI, 2009).
Claro que existem vários fatores contextuais que incidem sobre o pesquisador brasileiro e o pressionam no sentido de um produtivismo descasado da qualidade. Contudo, deixo aqui a indicação da nota Quem Responde pelo Desempenho Limitado da Produção Científica em Administração no Brasil?, publicada originalmente na Organizações e Sociedade e depois reproduzida na Anpad, que faz uma reflexão sobre esses fatores.
Além disso, será que é tão difícil disponibilizar uma disciplina de aperfeiçoamento da escrita científica?
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Então é isso e até a próxima.
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