No post de hoje apresento a análise que Genauto Carvalho de França Filho faz sobre o conhecimento produzido em administração, no texto Para um olhar epistemológico da administração: problematizando o seu objeto, para discutir a questão o que é a Administração.
Definir o que é a Administração certamente não é uma tarefa fácil. Muito embora, as definições fornecidas por manuais e em sites na rede sejam tão próximas, que fazem a falta de consenso parecer apenas questão de detalhe. Veja abaixo algumas definições:
Administração é um processo dinâmico de tomar decisões sobre a utilização de recursos, para possibilitar a realização de objetivos (MAXIMIANO, 2004, p.33)
Administração é a função de se conseguir coisas, através de pessoas (KOONTZ; O’DONNELL, 1962)
Administração é interpretar os objetivos propostos pela empresa e transformá-los em ação empresarial por meio de planejamento, organização, direção e controle de todos os esforços realizados em todas as áreas e em todos os níveis da empresa, a fim de atingir tais objetivos. Assim, a Administração é o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar o uso dos recursos organizacionais para alcançar determinados objetivos de maneira eficiente e eficaz (CHIAVENATO, 2000)
O que perpassa todas essas definições é a compreensão da administração como um ato eminentemente prático. De acordo com França Filho (2004), compreender a administração desse modo, por mais usual que seja, limita o espaço de reflexão sobre o que é a Administração?. Diante dessa limitação, França Filho (2004) propõe um exame sobre o que se faz e o que se pensa em administração, para deste ponto definir o que é Administração.
Ao realizar essa análise, França Filho (2004) identifica três conjuntos de conhecimentos desenvolvidos sobre a rubrica da administração.
O primeiro deles é o das técnicas e modelos gerenciais. Nas palavras do autor
As técnicas ou metodologias gerenciais dizem respeito ao conjunto de ideias voltadas ao auxílio do trabalho do gerente, num sentido muito prático e aplicado. Foram desde os primórdios, concebidas no âmbito das empresas, mas sempre com pretensão de validade geral, e é assim que são transpostas para o âmbito de instituições públicas, entidades não-governamentais e organizações sociais em geral, como modelos a serem seguidos para a boa eficiência administrativa. Vale ressaltar que boa eficiência, ou mesmo eficácia, aqui se define antes de mais nada segundo os parâmetros clássicos de uma racionalidade instrumental ou funcional. (FRANÇA FILHO, 2004, p.122-123)
Taylorismo, Administração por Objetivos, Qualidade Total, Reengenharia, downsizing, os sistemas ISO, assim como a maior parte dos modismo gerenciais são exemplos desse tipo de conhecimento. Em virtude desse caráter aplicado a produção do conhecimento
se confunde com proposição de metodologia de gestão empresarial, revelando o sentido pragmático das ideias disseminadas e a natureza prescritiva do conhecimento: ele dispõe sobre como deve funcionar uma empresa, e seu compromisso é com os resultados econômicos do empreendimento. (FRANÇA FILHO, 2004, p.123)
O segundo subcampo de conhecimento são as áreas funcionais, as famosas subáreas de especialização da prática administrativa. Segundo França Filho (2004), elas compartilham o sentido pragmático e prescritivo da primeira área.
No universo empresarial: o marketing, as finanças, a gestão da produção e a gestão de recursos humanos, para muitos, parecem tão indispensáveis ao exercício da administração que tais conteúdos estruturam em larga medida a elaboração dos currículos de formação do profissional em administração. (FRANÇA FILHO, 2004, p.124)
As áreas funcionais têm seu início com a divisão do trabalho proposta por Fayol, e com as teorizações posteriores que desenvolveram a noção de departamentalização. Para muitos, “as áreas funcionais encerram o próprio sentido de ser da administração hoje, devendo o administrador necessariamente especializar-se em uma delas” (FRANÇA FILHO, 2004, p.125).
O terceiro subconjunto de conhecimento produzido sobre a rubrica da administração é o da teoria das organizações. De acordo com França Filho (2004)
Enquanto, nos dois casos anteriores, a natureza do conhecimento que se elabora é eminentemente pragmática e prescritiva, já que a ênfase fundamental está posta na dimensão operacional e aplicada do trabalho gerencial, com advento de uma teoria das organizações tal enfoque tende a alterar-se. Isso posto em razão de um deslocamento do objeto mesmo da administração que passa do trabalho para organização como unidade de análise. A preocupação, portanto, amplia-se do trabalho em sei para o contexto onde este trabalho é exercidos, ou seja, o próprio universo organizacional. (FRANÇA FILHO, 2004, p.125-126)
Neste tipo de produção de conhecimento a um salto qualitativo passando da prescrição para explicação dos fenômenos organizacionais. Vale ressaltar que Teoria das Organizações não é a mesma coisa que Teoria Geral da Administração (TGA), pois a teoria das organizações surge apenas a partir dos estudos de comportamento organizacional e da sociologia das organizações, compartilhando com elas o viés funcionalista (FRANÇA FILHO, 2004).
Diante da multiplicidade de conhecimentos produzidos na administração, não encontro sentido em manter uma definição de administração apenas como uma prática como apresentado anteriormente. Para França Filho (2004), o entendimento sobre o que é administração? deve ser plural assim como o conhecimento produzido. Neste sentido, França Filho (2004) conclui o seu texto apresentado três interpretações possíveis sobre o que é a administração, que são:
- Administração como Arte:
A compreensão da administração como arte repousa sobre o pressuposto do seu entendimento, antes de tudo, coo uma prática, uma ação, um fazer que se aprende à medida que se exercita (ou se pratica), um learning by doing. A prática administrativa ou o exercício da administração, nessa perspectiva, supõe um conjunto de habilidades tidas como inerentes ao indivíduo, conformando uma espécie de talento natural. (FRANÇA FILHO, 2004, p.131-132)
- Administração como Ideologia
Interpreta a administração como ideologia significa, de antemão, assumir o pressuposto que identifica a noção de gerência de empresas e admitir que ela não se define como um saber neutro. A administração, nestes termos, estaria sempre a serviço do capital, isto é, dos interesses dos proprietários ou controladores da empresa. Tal interpretação implica privilegiar um pressuposto político de entendimento da realidade organizacional. (FRANÇA FILHO, 2004, p.133-134)
- Administração como Ciência
Esse terceiro eixo de interpretação pretende simplesmente considerar a possibilidade de a administração ser pensada como uma área do conhecimento, ou seja, um campo disciplinar de estudos e pesquisas. Para tanto, faz-se necessária a existência de um objeto. Entretanto aqui repousa uma controvérsia: seria esse objeto a gestão, enquanto prática, ou as próprias organizações como fenômeno? Sustentamos a segunda hipótese como resposta… [pois] consideramos que a compreensão do fenômeno organizacional implica o reconhecimento e a identificação das suas diferentes dimensões ou variáveis constitutivas. Algumas delas se destacam na tradição de análise organizacional, como estratégia, estrutura, ambiente, cultura etc. Desse modo, segundo nosso entendimento, a gestão representa outra variável do universo organizacional. (FRANÇA FILHO, 2004, p.135-136)
Qual a sua opinião sobre a definição do que é a Administração?
Então é isso e até a próxima.
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Referências
CHIAVENATO, I. Administração: teoria, processo e prática. São Paulo: Makron Books, 2000.
FRANÇA FILHO. G. C. Para um Olhar Epistemológico da administração: problematizando o seu objeto. In: SANTOS, R.S. (ORG). A administração política como campo do conhecimento. São Paulo: Mandacaru, 2004.
KOONTZ, H.; O’DONNEL, C. Princípios de Administração: uma análise das funções administrativas. São Paulo: Pioneira, 1962.
MAXIMIANO, A.C.A. Introdução à administração. São Paulo: Atlas, 2004.
Salve, Ronei!
ResponderExcluirMuito bom (e útil) o post! Seu blog está ótimo!
Um abraço,
Francisco Giovanni Vieira
Caro Giovanni,
ResponderExcluirObrigado pelo elogio e pela sua presença.
Abraços,
Ronei