As ciências sociais e a Administração

Olá, tudo bem? O post de hoje trata-se de uma sugestão de leitura que é o livro Ciências sociais e o Management, de autoria Jean-François Chanlat. Essa obra além de interessante, pois ajuda a compreender a relação entre as ciências sociais e administração,  é didática, não é extensa e custa pouco em sebos. Abaixo segue um resumo do livro para que você possa tomar conhecimento sobre o que ela trata.

Chanlat inicia sua obra apontando três mudanças fundamentais que ocorreram na sociedade nos últimos dois séculos, a saber: a hegemonia do econômico; o culto da empresa; e a influencia crescente do pensamento empresarial sobre as pessoas. O movimento da sociedade é pautado pelo crescimento econômico e pelas aspirações democráticas. A lógica do capitalismo, baseada na propriedade privada, no jogo de interesses pessoais, na busca do lucro e da acumulação, tem reinando de modo dominante sobre toda a sociedade. A empresa, por sua vez, ganhou um espaço central na atenção da sociedade, esta notoriedade atingiu seu apogeu na década de 1980. Isto trouxe consigo duas conseqüências: (1) difusão massiva dos discursos e práticas de gestão, até mesmo para setores onde ela não era cogitada; e (2) um aumento considerável no número de escolas de gestão.

Todo este movimento pelo qual a sociedade passou e tem passado, tem levado a um fenômeno que Chanlat designa de managerialismo, isto é, um sistema de descrição, de explicação e de interpretação do mundo a partir das categorias de gestão, fenômeno este, que tem atingido inclusive a esfera da vida privada. É em virtude desta penetração do pensamento do management na vida social dos indivíduos que acontece o encontro entre as ciências sociais e o próprio management.

Para discorrer sobre o encontro destes dois campos, Chanlat recorre à história, procurando desvelar a natureza de cada um deles. Logo de inicio ele já nos apresenta a definição de ciências sociais. Segundo ele, elas se dedicam a tornar inteligível a vida social em seus aspectos particulares e totais. Mas isso não quer dizer, esclarece Chanlat, que haja um consenso, pelo contrário, nela se distingue dois movimentos: de um lado, uma posição mais naturalista, objetivista, causualística e cientista e, do outro, uma posição mais humanística, subjetivista, finalista e compreensiva. Mas além desta dicotomia, a ciências sociais apresenta outra, a de sua finalidade. Essa última abordagem defende um tratamento na busca de tornar o ato social mais compreensivo e inteligível, a outra, propõe aplicabilidade das teorias, isto é, que elas sejam criadas pra algum fim, como o controle e a previsibilidade. No entanto, para além, destas dicotomias Chanlat aponta para quatro pilares que sustentam a ciências sociais, são eles: descrição, explicação, interpretação e normas e valores.

A história do Management, por sua vez, começa com o crescimento das indústrias. De modo que no seu desenrolar pode-se, segundo Chanlat, destacarem-se três momentos. O primeiro um movimento que buscava um management científico, baseado, principalmente, na solução de problemas de produtividade. O segundo período é marcado pela busca “de uma gestão que se apóia tanto sobre instrumentos formais como sobre as gestões sociais aprendidas cada vez mais nas instituições de ensino” (p.33). A terceira e última fase é marcada pela busca desenfreada da eficácia organizacional, sobretudo da eficácia financeira, devido a constante globalização da economia o que exige das organizações serem cada vez mais competitivas, flexíveis e informatizadas.

management assim configurado se apresenta como uma prática social eminentemente pragmática. Todavia Chanlat observa que além de prática, o management constitui uma disciplina das ciências sociais que busca a compreensão da conduta humana.

Após apresentar a história dos dois campos, Chanlat nos apresenta as maneiras pelas quais se deram os encontros entre eles. Nesta relação o management sempre buscou nas ciências sociais conhecimentos que o permitisse obter uma melhora na eficácia e na produtividade de seu capital humano. Relegando ao esquecimento aspectos como o da dominação e o do sofrimento, dos valores e a dos sentidos.

Para Chanlat, os resultados obtidos pelo management em seu desenvolvimento, em especial nas últimas três décadas, tem sido decepcionantes. Ao invés de aprofundar para o lado humano, ou melhor, cuidar do humano, ele tem se fortificado sob a égide da eficácia financeira, baseado na redução de custos. O que se observou, por exemplo, no movimento de reengenharia, que culminou com as reorganizações das empresas e a demissão em massa de empregados, o que resultou em perca de produtividade ao invés do aumento da mesma. Esta racionalização, baseada na lógica técnica, teve conseqüências sociais, ainda mais desastrosas, como o aumento da concentração de renda e a perca em benefícios salariais e sociais. Avaliando o caminho do management e das ciências sociais e as suas naturezas Chanlat propõe uma antropologia das organizações, isto é, uma antropologia geral, interdisciplinar, constituída de todos os campos que vem o ser humano como um ser vivo e social. Buscando, deste modo, retomar as dimensões que foram relegadas pelo management, através de um reducionismo, na tentativa de tornar o mundo previsão e controlável. As dimensões propostas por Chanlat são os retornos do ator e do sujeito, o retorno da afetividade, o retorno da experiência vivida, o retorno do simbólico e da história no tratamento do indivíduo dentro da organização.

Caso tenha gostado recomendo a leitura dessa obra e da obra organizada pelo mesmo autor CHANLAT, J.F. (ORG.) Indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas, 1996

Então é isso, até a próxima.

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Referências
CHANLAT, Jean-François. Ciências Sociais e Management: Reconciliando o Econômico e o Social. São Paulo: Atlas, 2000.

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