Retomando a série de posts sobre a proposta de Burrell e Morgan (1979), neste post apresento a sistematização realizada pelos autores para identificação dos paradigmas na teoria das organizações. Lembrando que já apresentei, anteriormente, um post delineando o que é um paradigma.
A tese central de Burrell e Morgan (1979, p. 1, tradução livre) é que “todas as teorias das organizações estão baseadas sobre uma filosofia da ciência e uma teoria da sociedade”. Dessa maneira, a sistematização de qualquer teoria utilizada na explicação do fenômeno organizacional deve ser balizada de acordo com a sua perspectiva quanto uma filosofia da ciência e a uma teoria da sociedade. Sendo assim, os autores passam a identificar os extremos de cada um desses eixos.
No que se refere ao eixo da filosofia da ciência, Burrell e Morgan (1979) argumentam que ela pode ser dividida em um conjunto de quatro pressuposições:
1) A natureza ontológica diz respeito a consideração que o pesquisador faz sobre a essência do fenômeno sob investigação. Sendo que cientista pode ter uma posição nominalista, em que o mundo social externo a cognição individual é feita apenas de nomes, conceitos rótulos utilizados pelos indivíduos para estruturar a realidade, não admitindo, portanto, qualquer estrutura real para o mundo; ou uma posição realista, em que o mundo social externo a cognição individual é um mundo real tangível e com estruturas relativamente imutáveis.
2) A natureza epistemológica se refere aos pressupostos sobre como podemos compreender o mundo e como comunicar este conhecimento a outros humanos. Na visão de Burrell e Morgan (1979), essa natureza se divide em positivismo e anti-positivismo. A primeira “procura explicar e predizer o que acontece no mundo social pela busca de regularidades e relações causais entre seus elementos constituintes”, enquanto a outra acredita que a “pesquisa social é essencialmente relativista e pode unicamente ser compreendida do ponto de vista dos indivíduos que estão diretamente envolvidos nas atividades estudadas” (BURRELL; MORGAN, 1979, p.5, tradução livre).
3) A natureza humana esta ligada ao relacionamento entre o ser humano e o seu ambiente. De um lado, está a visão determinista que considera o homem e suas atividades como sendo completamente determinadas pela situação ou ambiente em que ele está localizado. Do outro, a visão voluntarista em que o homem é completamente autônomo e com livre escolha.
4) A natureza metodológica é uma importante consequência do caminho escolhido pelo pesquisador em sua tentativa de investigar e obter conhecimento do mundo social, em outras palavras, diferentes posicionamentos sobre a natureza ontológica, epistemológica e da natureza humana inclina o cientista social para diferentes metodologias. Para Burrell e Morgan (1979), essas diferenças são representadas por um lado pela abordagem ideográfica que compreende que o mundo pode ser acesso unicamente através da obtenção de conhecimentos através do sujeito sobre investigação. Do outro, a abordagem nomotética que enfatiza a importância dos protocolos e das técnicas, para o teste de hipóteses de acordo com os cânones das ciências naturais.
Com base nessas considerações a cerca da filosofia da ciência, Burrell e Morgan estabelecem como pólos desse eixo o dualismo subjetivismo e objetivismo. Tal como na figura ao lado.
No outro eixo, teoria da sociedade, Burrell e Morgan (1979) identificaram os pólos da sociologia da regulação e da sociologia da mudança radical. Sendo que o primeiro se refere às teorias que estão preocupadas principalmente com a explicação da sociedade em termos que enfatizam a sua unidade e coesão. Por outro lado, a sociologia da mudança radical está preocupada em encontrar explicações para a mudança radical, modos de dominação e contradições estruturais e a emancipação do homem das estruturas que limitam o desenvolvimento do seu potencial.
A partir do cruzamento desses dois eixos, Burrell e Morgan (1979) identificaram quatro paradigmas utilizados na análise organizacional: Funcionalismo, Interpretativo, Humanismo Radical e Estruturalismo Radical, veja a figura abaixo. Muito embora, os paradigmas sejam mutuamente excludentes entre si, princípio da incomensurabilidade, Burrell e Morgan (1979) destacam que existe uma grande variedade de abordagens dentro de cada paradigma.
Então é isso, até a próxima.
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Caro Ronei,
ResponderExcluirMeus parabéns pelo Blog, completo, objetivo, atualizado e muito interessante. Com certeza vai fazer parte dos meus Favoritos.
Abraço,
Adalmir Gomes
Universidade de Brasília - UnB
Caro Adalmir,
ResponderExcluirObrigado pelos elogios.
Abraços,
Ronei
Gostei bastante do post. Parabéns!
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