Administração: ciência ou arte? A visão de Peter Drucker

Administração é uma ciência ou arte (prática)? Essa é uma pergunta que perpassa praticamente toda a trajetória da administração moderna. Durante esse período diferentes autores – cientistas, consultores e executivos, procuraram dar a sua resposta a essa questão, alguns de uma forma mais explícita do que outros. Em virtude da relevância dessa questão apresentarei aqui no blog uma série de postagem apresentando as diferentes respostas dadas pelos autores da área a questão, destacando os argumentos centrais delas. Contudo, convêm ressaltar que diversas vezes o conceito de ciência de um autor apresentado não equivale ao do outro. Vamos a primeira análise.
 
O primeiro autor explorado é Peter F. Drucker que foi professor e consultor de administração por mais de 50 anos, sendo um dos pensadores mais influentes da prática administrativa no século XX, embora seja visto com descrédito pela maior parte da acadêmica brasileira de administração.

Para análise da questão tomei como base o livro Administração: tarefas, responsabilidades e práticas. Muito embora, Drucker tenha escrito mais de 30 livros a essência da sua visão se encontra nos livros Prática de Administração (1954) e no Administração: tarefas, responsabilidades e práticas (1973), que é em grande parte uma atualização do Prática de Administração e no artigo Teoria do Negócio (1994). Os demais textos correspondem a visão de Drucker sobre questões secundárias da administração ou sobre a sociedade e que não vão além do que foi apresentado nesses textos destacados.

Drucker (1975) não afirma que a administração é uma ciência, mas também nega inúmeras vezes que ela seja uma mera aplicação de outras ciências. Para Drucker (1975, p. XXIV), a administração “é uma disciplina, ou pelo menos, está apta a se tornar uma”. Apesar de aplicar conhecimentos da área de economia, da engenharia e da ciências sociais, a administração trata de problemas que não são abordadas em nenhuma das áreas com a qual ela mantem relação. Nas palavras do autor:
Administradores praticam administração. Não praticam economia. Não praticam a quantificação. Nem a ciência do comportamento humano. Todas são instrumentos do administrador. Mas ele não exerce a economia mais do que um médico realiza exames de sangue. Não prática as ciências do comportamento humano mais do que um biólogo usa o microscópio. Não utiliza a quantificação mais do que o advogado usa de decisões judiciais… Uma implicação disso tudo é que existem habilitações administrativas próprias da administração e não de outra matéria qualquer… Sendo uma matéria específica, a administração tem seus próprios problemas básicos, seus próprios tipos de abordagem, seus próprios interesse. (DRUCKER, 1975, p. 20)

Por outro lado, Drucker afirma que a administração é uma prática (arte)1. Em suas palavras
administração é muito mais uma prática do que uma ciência. Nisso ela se compara à medicina, ao direito, à engenharia. Não é conhecimento, mas sim desempenho. Além do mais, não é uma aplicação do bom senso, ou de liderança, menos ainda a manipulação das finanças. Seu desempenho baseia-se tanto no conhecimento como na responsabilidade (DRUCKER, 1975, p. 20, grifos nossos)
 Em um trecho adiante ele complementa
O administrador precisa ser um artesão. Seu dever principal, na verdade, é o de fazer com que a sua instituição desempenhe a missão e atinja o objetivo que é a própria razão de sua existência – quer seja a produção de mercadorias ou a prestação de serviços, o ensino ou atendimento médico-hospitalar (DRUCKER, 1975, p. 21, grifos nossos)

Essa inclinação de Drucker em assumir a administração como uma prática (arte), em detrimento da ciência se deve, em grande parte, a sua visão funcionalista, em que a ciência se refere a leis, fórmulas e modelos, pautados na objetividade e na universalidade. Deste modo, uma aplicação literal da ciência administrativa na prática se torna ineficaz, uma vez que a prática da administração está condicionada culturalmente e sujeita a valores, às tradições, aos hábitos e costumes de uma sociedade, sendo assim uma prática singularizada. Nas palavras do próprio autor
Administração é uma função objetiva, estabelecida pelos deveres, ou seja, é uma matéria de ensino. E, no entanto, está culturalmente condicionada e sujeita aos valores, às tradições, aos hábitos e costumes de uma sociedade (DRUCKER, 1975, p. 21)
Em síntese, para Drucker (1975), a administração é uma ciência porque estuda e trata de problemas próprios. E é arte pois depende da capacidade do administrador em utilizar e adaptar todo o conhecimento administrativo as exigências locais da situação. Sendo a Administração enquanto arte (prática) a sua principal preocupação principal.

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Então é isso, até a próxima.

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DRUCKER, Peter F. Prática de administração de empresas. Tradução de Nivaldo Montigelli Jr. São Paulo: Pioneira, 1981 [1954]

DRUCKER, Peter F. Administração, tarefas, responsabilidades e práticas. Tradução de Carlos José Malferrari. São Paulo: Pioneira, 1975 [1973]

DRUCKER, Peter F. The theory of business. Harvard Business Review, Boston, v. 72, n. 5, p. 94-107, set./out. 1994.

1 Assim como no texto de Drucker usamos prática e arte como sinônimos.

Um comentário:

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